VIVER NÃO É PRECISO DE NOVO

Oi,

então, na falta de assunto e enquanto o livro VIVER NÃO É PRECISO continua em processo de reedição, vou soltar mais um trechinho do próprio:

E A ORELHA DE VAN GOGH?

  
O mês de julho era meu predileto, pois não havia aula e fazia um friozinho gostoso. Pela manhã, ficávamos em casa na companhia da Xuxa e suas Paquitas, à tarde, quando estava um pouquinho mais quente, nós nos juntávamos para brincar.
Na primeira semana sem aula, a galera já se reuniu na calçada da casa da Mila. Parecia um sonho: um mês inteiro sem pisar na escola – vida boa. Cada um tinha um plano diferente para julho: alguns iam viajar, outros iam para fazendas próximas. No entanto, e esse era o meu caso, a maioria ficaria em casa mesmo.
Antes que casa um tomasse seu rumo e a rua se esvaziasse, decidimos brincar de beti-bola. Era uma brincadeira que todo mundo gostava – meninos e meninas – então, não havia conflitos.  Sem falar que era um jogo simples, bastavam duas ripas e uma bolinha, um espaço razoável – que sempre era o campinho, ou a rua mesmo – e já podíamos sair jogando.
O único problema era a escolha do campo, ou o melhor lado para começar o jogo. Isso sempre era decidido no par ou ímpar.
- Par...
- Ímpar...
- Um dó lá si e já...
- Dois é par, ganhei – saí comemorando e gerei a primeira crise na brincadeira.
- Por que vocês têm que ficar com o lado de cima?
- Porque eu ganhei e eu escolho.
- Mas o campo de baixo o sol atrapalha.
- Por isso eu escolhi o campo de cima.
- Isso não é justo.
- Num tenho culpa que você é azarado...
Íamos cada qual para o seu campo e a partida começava. O Caio atira a bola de cá, a Rebeca rebate de lá, a gente corre, faz a contagem e tudo acontece naturalmente. Tudo bem, se não fosse a mania do Murilo de querer aparecer. Metido à especialista, ele quis fazer uma manobra arriscada para acertar a bolinha amarela que o Caio ganhara graças à nota boa que tirara em Matemática, o que, por si, já era um grande milagre.
O Murilo imaginou uma grande força, lá dentro da cabeça dele, e concentrou toda essa força no seu braço, a força, então, passou para a ripa usada como bastão. E quando a bolinha veio fazendo um zunido que mais parecia bicho, o Murilo girou o corpo, com muita fúria, num movimento de trezentos e sessenta graus.
A bolinha, que era mais esperta que o Murilo, passou direto e foi se aninhar lá no meio do campinho de terra, o tal que a gente usava para tudo quanto é brincadeira que vinha à nossa cabeça.
O Murilo abriu os olhos, procurou a danada da bola e não viu nada. Ele não tinha acertado bolinha coisa nenhuma, o que ele acertou, mesmo, foi a orelha do Caio. Coitado do Caio. Ele ficou lá esparramado no chão gritando que tava doendo.
No início, eu achei que ele tava fazendo drama, porque o Caio era o rei do dramalhão. Fazia mais drama que personagem da novela Chispita. Porém, começou a sair sangue da orelha dele e, então, vi que talvez tivesse doendo mesmo.
- Ih, você arrancou a orelha do infeliz.
- Ele que ficou perto demais.
- Caio, você tá me ouvindo?
Ele só chorava.
Saindo não sei de onde, a mãe do Caio veio correndo até o campinho. Foi uma gritaria e uma choradeira geral. O Caio fazendo manha, exagerando no drama e a mãe dele fazendo escândalo.
E assim terminamos nossa primeira semana de férias: o Murilo de castigo, o Caio com um curativo na orelha e eu rindo dos dois.

Comentários

Anônimo disse…
Parabéeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeens ! Voce arraza!
Anônimo disse…
Nossa, lembrei minha vida. Emocionei

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