AMORES POSSÍVEIS

Olá, 

Eu havia prometido falar do meu novo livro. Bem, ele se chama AMORES POSSÍVEIS e será lançado ainda este ano por um selo da Editora Multifoco (Rio de Janeiro), AMORES POSSÍVEIS conta a história de quatro amigos adolescentes gays (Nando, Lipe, Caio e Júlia) que estão cursando o último ano do ensino médio. A história termina no dia da formatura deles. Os personagens centrais vão, juntos, descobrir as dores e os sabores de serem como são. Vão conhecer o preconceito, a discriminação, vão descobrir o valor de uma amizade verdadeira e vão viver seus primeiros amores. Em meio a tudo isso, Nando (o narrador) acaba se apaixonado por um colega novo, mas há um problema: o garoto é hétero! E agora? Segue abaixo um pequeno trecho do primeiro capítulo: AGITAÇÃO.
Beijos
@aharomavelino


Agitação

Tumulto, corre-corre, falação e muita gritaria. Há dias que a escola estava um pandemônio. O ginásio parecia uma grande escola de samba. Havia balões brancos e vermelhos, fitas e muito papel crepom, nos mesmos tons, cobrindo o teto e algumas paredes. Um verdadeiro carnaval.
– Já vi decoração brega, mas isso aqui bate todos os recordes – disse o Caio balançando a cabeça em tom de negação.
No meio da confusão, a Jéssica era a mais nervosa. A garota corria feito uma louca de um lado para outro, parecia uma dessas formigas desorientadas.
Em menos de cinco horas, teríamos o tão falado “Baile de Inverno”. O tal baile tinha sido a forma criativa que acharam para arrecadar grana pra nossa formatura. Quando eu digo acharam, estou me excluindo mesmo, porque a ideia não partiu de mim. Quem teve esse brilhante ataque de criatividade fora a Jéssica, evidentemente. O nome foi dado por ela também, acho que a louca nem se preocupou em verificar se estávamos ou não no inverno. O que ela queria – penso eu – era um título de impacto e baile de inverno, para ela, era impactante. Para mim, impactante era o fato de a decoração não ter nada a ver com inverno, mas tudo bem.

E naquela zona toda, meu papel era ficar sentado na arquibancada da quadra me divertindo ao ver meus colegas de turma desesperados. Todo mundo tentando colocar as coisas em ordem. Os alunos do terceiro ano estavam à beira de um ataque de nervos. Eu estava surpreso de ver que a Jéssica ainda não tinha arrancado seus longos cabelos loiros (tingidos, claro). Ah, mas isso é uma coisa que ela não faria mesmo. A Jéssica tinha noção de algumas coisas, e uma delas era a fortuna que se gastava num salão de beleza.
Pois é, a Jéssica era mesmo uma figura. Como explicá-la? Acho que ela era inexplicável. Mas vou tentar. A garota era tipo uma dessas modelos de revista, sabe? Magra, alta, bonita, bem vestida, maquiagem sempre perfeita e lentes azuis para enganar os bobos de plantão. Era conhecida como a Barbie da escola. O seu cabelo descolorido parecia tirado de um comercial de xampu.

A maioria das meninas queria ser ela, e a maioria dos meninos queria ficar com ela. Com um índice de popularidade de dar inveja a qualquer Miss Universo, ela fora eleita a presidenta da comissão de formatura da escola. O problema foi que a maluca levou o título muito a sério e começou a se comportar como se fosse a rainha da Inglaterra.

Nossa escola se dividia em três grandes grupos: o que amava, idolatrava, imitava, admirava e queria ser amigo da Jéssica; o grupo dos que tentavam ignorar sua existência; e o grupo que adorava odiá-la.
Eu pertencia ao segundo grupo, embora, às vezes, tenha colocado um pezinho no terceiro. Fingia que ela não existia. Eu nunca seria amigo da Jéssica. Não que isso fosse mudar minha vida, nunca quis ser íntimo dela. Para ela, eu também não era bom suficiente pra andar com sua turma.

Eu pertencia ao grupo dos comuns. Nunca fui um deus grego (mas não sou feito, que fique bem claro), não tinha um corpo atlético (também nunca fui gordo, ok?) e tinha uma altura razoável. Ou seja, nunca fui do tipo que chamasse à atenção. Pelo menos, não pela estética.

Enquanto a Jéssica e sua corja se matavam no meio da quadra para deixar tudo pronto até à noite, eu e meus três únicos amigos nos divertíamos na arquibancada.
Do meu lado direito estava o Lipe (Felipe, na verdade), mas todos o conheciam como Lipe mesmo. O Lipe
era o mais tímido do grupo. Pequeno, magrinho, cabelo sempre raspado à máquina e óculos de aro preto muito elegante. Ele falava pouco e baixinho. Quando estava contando alguma coisa para alguém, o Lipe gostava de cruzar os braços. Assim, gesticulava menos e não dava tanta pinta.

Próximo ao Lipe estava o Caio. O Caio era uma figura e tanto. Ele era o oposto do oposto do Lipe. Era alegre, expansivo, animado, astral lá em cima e possuía um humor ácido que, quase sempre, deixava todo mundo sem graça. Quando falava, o Caio ilustrava suas histórias com gestos grandiosos. Eu sempre achei que os braços dele tinham vida própria.
Muito vaidoso, o Caio estava se sentindo. Tudo graças ao sucesso de sua chapinha. Seu cabelo fora, finalmente, domado e agora estava cobrindo parte dos olhos. E o visual emo caiu como uma luva nele.
As roupas usadas pelo Caio sempre foram um capítulo à parte, ele não usava nada normal. Cada modelinho dele era um evento.

– Quem usa roupas são vocês, pobres mortais. Eu uso superproduções – ele sempre dizia.
Quando não achava nada que o agradava nas lojas da cidade, ele comprava qualquer coisa e customizava. Naquele dia, ele tinha caprichado na botinha de couro e na calça justíssima, sem falar na camiseta com a cara da Madonna em tamanho gigante – a imagem, não a camiseta.

E, finalmente, do meu lado direito estava a Júlia.
A Júlia era, em minha opinião, uma das meninas mais lindas da escola: cabelos vermelhos, olhos verdes – muito bem delineados com lápis preto – pele branquinha, olhar penetrante e postura elegante. Ela usava um piercing na língua e se vestia com atitude. A Júlia gostava de se exibir com seus braceletes de couro, suas roupas escuras e seus coturnos ou All Star bem surrados. Ela era realmente uma criatura incrível.
Além de minha melhor amiga, a Júlia era, também, minha vizinha. Morávamos no mesmo prédio, um de frente para o outro, desde que nos entendemos por gente. Desde pequenos, estávamos sempre juntos, éramos como irmãos.

A minha amizade com a Júlia sempre incomodou o Caio. Ele nunca escondeu os ciúmes. Vivia me acusando de dar mais atenção a ela do que a ele. Sempre que estavam juntos, o Caio e a Júlia se pegavam feio. Mas, no fundo, eles se gostavam.
Nós estávamos parados ali no ginásio há pelo menos uma hora. O Caio como sempre não calava a boca um segundo. Ele falava tanto que me distrai e já não sabia mais qual era o assunto do seu falatório. Só prestei atenção no papo, quando ele e a Júlia começaram outra briguinha.
– Já ouviu falar em Prada, querida? Pois é, esse meu lenço é um Prada legítimo. Claro que você não sabe o
que é isso, porque você nunca vai usar um Prada na vida – disse o Caio, enquanto ajeitava o lenço no pescoço.
– Prada, ou não Prada, ele é desnecessário – falou a Júlia. – Olha o calor que está fazendo, criatura.
– Eu não vou deixar de ser elegante por causa desse calor horroroso, né?
– Você tá é pagando mico, Caio.
– Quer saber, Júlia? Vai pentear macaco! Invejosa!
– Só acho que você poderia ser um pouco mais discreto – disse ela.
– Ah, vai ver se eu tô na esquina, sua despeitada.
– Caio, hoje durante o intervalo, as pessoas estavam rindo de você.
– E daí? Quem se importa? Eu por acaso devo alguma coisa pra alguém nessa escola? Até parece que eu me importo com essa gente comum – retrucou o Caio, aumentando o tom de voz.
– Gente, pelo amor de Deus. Olha a cena – advertiu o Lipe.
O Caio fez uma careta pra Júlia e virou o rosto para o outro lado. A Júlia me encarou como quem pede ajuda.
– Ih, me deixa fora disso. Vocês que são grandes que se entendam – eu disse.
O Caio lançou seu olhar de vencedor para a Júlia e passou a mão pelos cabelos em tom de deboche.
– Palhaço – disse a Júlia baixinho.
Ficamos mais alguns minutos no ginásio e decidimos que já era hora de voltar às nossas vidas.

Estávamos saindo, quando fomos cercados pela Jéssica e sua gangue – era assim que chamávamos as meninas que andavam com ela.
– Oi, gente, tudo bem?
– Oi, Jéssica – eu respondi.
– E aí? Vocês vão participar do nosso baile hoje à noite? – ela quis saber.
– Ah, mas a gente não perderia esse “seu” baile por nada, fofinha – disse o Caio.
– Obrigada, Caio – falou a Jéssica em tom irônico. – Mas, tipo, vocês sabem que esse baile é um baile normal, né?
Eu olhei incrédulo para meus amigos. O que ela queria dizer com normal?
– Sério? – disse o Caio. – Não me diga! Ainda bem que você avisou que o baile é pra gente normal, fofa. Eu nunca iria num baile pra gente “anormal”!
– Ah, tá... – ela falou meio sem graça.
– E depois, nós também somos formandos – emendou a Júlia.
– É... Tem isso, também... – falou a Jéssica.
– Então, fica tranquila, a gente vai aparecer e gastar muito nessa festa – prometeu o Caio.
– Então tá...
– Você não tem nada contra o nosso dinheiro, né, Jéssica? – questionou a Júlia.
– Não... Eu...

Comentários

João Paulo disse…
Luxo, só pelo que li já vi que a estória vai ser bem interessante e convidativa!! Mal vejo a hora de ser lançado. Parabéns A.A.
denise fermino disse…
Que máximo, amigo! Quero ler inteirinho esse livro! Você arraza! :D
Nando disse…
hehe vamos ver se esse eu consigo ler !!!
ah gostei do nome do narrador !!! hehe !!!
Unknown disse…
aaaaah...too ansiosa praa ler esse livro !

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