FALANDO A NOSSA LÍNGUA
Oi,
Há dois anos, escrevi um romance voltado ao público LGBT. Nele, eu conto a história de quatro adolescentes gays: Nando, Lipe, Caio e Júlia. Foi uma delícia escrever essa trama, ver os personagens ganhando vida. Às vezes, via minha vida na vida deles. Concluído o livro, pensei que o mais complicado fosse achar uma editora, afinal quem era Aharom Avelino? Ninguém! Confesso que foi uma jornada dura... Enviei o livro a várias editoras, muitas disseram NÃO e nem se deram ao trabalho de explicar o porquê, outras nem responderam. Normal. É assim que funciona o mercado. No entanto, o que mais me deixou entristecido foi um papo que tive com uma pessoa do meio editorial (não digo o nome nem sob tortura). Quando falei para essa pessoa sobre meu projeto, ela foi categórico:
- Ih, sai dessa... Desista. Literatura gay não vende. Os gays não gostam de ler. Principalmente os jovens. Eles sofrem de um analfabetismo cultural. Só querem saber de boates, festas, drogas e sexo... Seu livro nem é pornô!
Como assim? Pensei. Será que gays só pensam em sexo? Eles não se apaixonam? Não vivem uma grande paixão? Não sofrem por amor, como os meus personagens? Claro que eles vivem tudo isso. Nós vivemos! Somos humanos como qualquer outra pessoa... Não desisti. Fui atrás. Achei uma editora interessada. A coisa foi andando, andando... aí veio a primeira decepção: a capa do livro. Ela era morta, parada, sem graça. Reclamei e me disseram que optaram por uma coisa mais discreta. Que não chocasse ninguém.
O quê? Então, eu teria o livro publicado, mas ele seria um livro enrustido? Preso no armário? Nem pensar! Se eu estava fora do armário, por que meu livro ficaria lá dentro? Desisti. Mudei o foco, voltei pra minha vidinha. Fui escrever minhas peças, meus roteiros e outras histórias. Hoje, as vésperas de lançar um outro livro (infantojuvenil, nada a ver com o mundo LGBT), a história dos meus quatro amiguinhos coloridos voltou aos holofotes. O livro sairá e com uma capa decente, bonita, colorida... somos assim. Não somos?
![]() |
Editora Escândalo |
Falei do meu livro, apenas para citar a Editora Escândalo (não serei publicado por ela, ainda...), que é uma casa editorial que fala nossa língua. Uma editora voltada para o público LGBT. Uma editora que, assim como eu, acredita que nossa gente não é analfabeta cultural, apenas precisa de uma literatura com a qual se identifique. Pena que, quando escrevi meu livro, a Escândalo ainda não existia. Mas, amanhã é outro dia... outros histórias... outros livros... vai que... né? Parabéns ao escritor Roberto Muniz, um dos idealizadores da Escândalo. Sucesso!
@aharomavelino
Comentários
Acho que as coisas estão mudando de tal forma que nós gays viramos os mais interessados em cultura. Claro que toda regra tem sua excessão, mas grande parte dos gays que eu conheço são fanáticos por leitura.Acho que é bem como você disse, a gente precisa se identificar com o enredo da coisa toda.